12 de abril de 2013

Sentimentos e gestos que não têm nem tempo, nem país, nem crise


Sendo filha de pais divorciados, sempre fui uma pessoa muito desconectada, fria, desumana até, no que liga às coisas do amor, magoada por ser vítima de um de muitos casamentos que inevitavelmente acabaram...
E depois de algumas relações (próprias de qualquer adolescente) conheci o meu actual namorado. Boa pessoa, muito meiguinho, mas nada de morrer de amores, achava eu na altura... Até ao dia em que aquele menino começou a mexer aqui com a pedra que eu tinha no lugar de coração. Mudou-me, mudou-me muito é verdade, e fez-me acreditar no amor, aquela espécie de amor sobre o qual o mundo gira, sobre o qual todos falam, todos sofrem, esse amor que todos procuram...
Mas mais do que isso ele fez-me pensar ser possível o "amor para sempre", aquele amor em que poucos acreditam hoje em dia porque estar casado ou comprometido é uma "prisão", um "suicídio", uma "seca", uma obrigação... porque ter uma relação séria é oposto a diversão, a felicidade constante, a liberdade, a viver a vida ao máximo!

Tudo isto porquê? Porque há uns dias passou uma reportagem na TVI sobre doentes terminais que recebem cuidados e assistência constante dos maridos, que me fez lembrar de uma história de amor que eu apreciei da primeira fila: a história dos meus avós!
Uma história muito bonita: namoro, casamento, filhos, netos, viagens, férias, concertos, discussões (porque todos as têm), jantares românticos, passeios à beira-rio... Até que um dia o mundinho (que não é assim tão cor-de-rosa) daquela vida a 2 deu uma cambalhota astronómica: foi diagnosticado ao meu avô um tumor na base do cérebro! Muitas consultas, operações, tratamentos... Muitos anos de sofrimento mas de apoio constante de quem mais lhe importava: a sua querida mulherzinha!
A minha avó passou por tudo ao lado dele, deu-lhe as forcas que não tinha e passou por coisas que teriam feito muitos desistirem. Amou-o, cuidou dele, mimou-o, até ele ser só um corpo que não responde à vontade do próprio dono, um corpo deitado numa cama (mas sempre sorridente), sempre esperançoso de poder voltar a abraçar aqueles que tanto o amam. Um corpo fraco mas um coração forte, de quem já passou por muito...
E a minha avó? Onde a encontrava eu? Sempre sentada ao lado do meu avô, sempre muito pouco chorosa porque sabia que o marido lhe ralhava quando lhe via a lágrima ao canto do olho, com muita pena, muito sofrimento por ver o amor da sua vida, o primeiro e único que teve, a desaparecer a cada dia que passava. Mas dava-lhe beijinhos, sempre deu, falava com ele, contava-lhe as notícias, o resultado do Benfica, falava-lhe das trapalhices dos netos e encostava a sua cara à dele, sentindo o cheiro tão próprio que sempre teve, e dizia que o amava e que amaria para todo o sempre, este sempre que estava tão perto do fim para ele...
Até ao ultimo respirar dele ela ali esteve, e nunca se queixou, nunca disse que não tinha valido a pena, que tinha perdido tempo da sua vida ali, que era mais feliz noutro lugar, porque isso seria mentira!
Ainda hoje, quase 2 meses depois de ele ter partido, ainda o ama, eu sei bem que sim.
E
Sei também que vou sempre olhar para o exemplo destes dois, como prova de que o amor pode ser para sempre, apesar dos obstáculos que a vida impõe, porque com a pessoa certa, tudo é alcançável

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